Desta vez, a história que vira inspiração no Morro do Macaco teve início bem longe das ruas da comunidade, na cidade de Laje na Bahia. Foi em meio às vendas e comércios daquela região, em um dia pacato, quando procurava oportunidades de emprego que o jovem Vailton Santos teve contato com um profissional que fazia fotos e se apaixonou pela arte dos registros visuais.
De imediato, pediu uma chance de trabalhar no estabelecimento desse fotógrafo e mais como forma de aprender sobre esse segmento, teve a partir dali os primeiros contatos com o que definiria uma carreira que lhe renderam boas histórias.
Tanto nesse primeiro laboratório, quando em outros que trabalhou naquele tempo, Vailton revela que havia muita desconfiança dos profissionais em ar o conhecimento, era um ambiente cheio de segredos, então, o que ele aprendia era observando sigilosamente também. Certo dia em que seu chefe havia viajado, Vailton tentou fazer as revelações fotográficas sozinho e sem autorização. “Ali tinha aquela mesma politica de não deixar você ver nada porque ‘era segredo’, aquela história toda, você ia aprender quando estivesse mais maduro. Mas eu era o capeta em forma de gente, então, cheguei lá fechando tudo, deixei a luz vermelha acesa, peguei o negativo, peguei o papel e fiz a foto, revelei e tudo”, lembra.

Assim que retornou, o dono do laboratório fotográfico percebeu que alguém havia mexido por ali e que seu aprendiz havia descoberto como revelar as fotos. Mas para surpresa do garoto, o profissional não apenas permitiu que Vailton executasse essas atividades dali em diante, como ou a lhe ensinar as técnicas abertamente.
ado algum tempo, Vailton foi trabalhar em outra agência fotográfica. Na época, havia uma gincana que acontecia na Avenida do Centenário, em Itabuna, outra cidade da Bahia, e entre as disputas havia corrida com animais. Apesar de já conhecer bastante sobre fotos e revelação, Vailton nunca havia tirado fotos antes, quer dizer, até ser escolhido para ir registrar esse evento naquele dia. “Eu falei para ele que nunca tinha pegado em uma máquina. Aí ele falou que não tinha segredo, era apenas olhar por aqui, apertar esse botão e pronto. Fui lá, fiz e vendi todas as fotos e ele gostou”, rememora.
Esse seu primeiro contato prático veio através de uma câmera Rolleiflex formato 6×6 e pelos resultados surpreendentes entre seu conhecimento teórico e essa máquina, ou à atividade como fotógrafo e não parou mais.

Da Bahia para São Paulo e de São Paulo para o mundo
O ano era 1969, enquanto a história registrava que o homem estava pisando na Lua pela primeira vez, o jovem Vailton Silva Santos pisava nas ruas movimentadas e cheias de novidades da capital paulista. Se ele era um rapaz esperto em sua cidade natal, por aqui já chegou mostrando ainda mais potencial e, em poucos dias, já estava atuando na função oficial de revelador em laboratório de renome da época. ou por várias agências e estúdios de fotografia e, rapidamente, foi ganhando reconhecimento com suas produções diferenciadas.
“ei um tempo no Laboratório Fotomoderna, em seguida no Cleiton Viante Fotografia e em seguida na Agência Vasclo. Lá, a gente fazia coisas do arco da velha, ia para o Rio de Janeiro fotografar o futebol, fazia fotografias no programa do Silvio Santos ‘cidade contra cidade’ e todo tipo de trabalhos visuais que davam o que falar na época”, conta.

De “clique em clique” e se modernizando conforme as novas ferramentas fotográficas iam surgindo, Vailton chegou à equipe da Folha de S. Paulo. Em seus primeiros dias no veículo de comunicação, ele descreve que muitas coisas funcionavam de forma inadequada e ineficiente para uma mídia daquele porte. Nesse período, houve uma transição com uma série de mudanças na istração e equipe do Jornal para se adequar às demandas e corrigir erros na produção de conteúdo da mídia. Entre as mudanças, o chefe do laboratório de fotografia que não correspondia às necessidades acabou saindo e para a vaga que abriu para essa ocupação, Vailton Santos foi o indicado para assumir a liderança do setor. “ei a ser chefe do laboratório da Folha, e aí eu mudei tudo. Estava chegando a computação na época, começamos então comprando equipamentos e mandei todo mundo ir fazer cursos”, diz.

Pela Folha de S. Paulo, o fotógrafo ou a cobrir matérias especiais viajando para destinos inesquecíveis que foram registrados pelas lentes de suas câmeras. Viagens que, além de experiências únicas, garantiram a Vailton histórias envolventes de diferentes culturas e até relatos que rendem risadas.
“Nesse tempo, me chamaram para ir cobrir especiais, ai eu fui para Disney, fiz uma matéria do Empire State em Nova York, teve um em Curaçao (ilha holandesa do Caribe) e muitos outros. Em uma das viagens teve até uma história bem engraçada, foi quando eu fui para Miami fotografar um navio que tinha naufragado e, chegando lá, acabei me perdendo procurando por ele, perdi o vôo três vezes para voltar e no final descobri que ficava em baixo do aeroporto que cheguei”, conta perdendo-se em risadas contando sobre algumas de suas experiências fora do país.
Com o ar dos anos, a trajetória inspiradora de Vailton não perdeu o ritmo agitado. Sentando com ele para tomar um café, o que não irá faltar são histórias que ele reuniu ao longo de sua vida até hoje. Morador querido do Morro do Macaco, acabou abrindo sua própria agência, a Vailton Fotografia, que atua atualmente com trabalhos voltados para Cotia e região e garante que essa atividade é o que faz sua vida estar completa: “fotografia pra mim é uma arte que complementa a vida”.
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Por Eric Ribeiro