A temporada dos cruzeiros marítimos na costa brasileira segue em alta e as viagens de navio caíram definitivamente no gosto dos brasileiros. Até maio de 2024, serão 7 navios percorrendo o litoral brasileiro e estendendo os roteiros ate Uruguai e Argentina. Além de outros tantos que farão escala no Rio, no Nordeste e nos portos do Amazonas a caminho dos Estados Unidos e da Europa.
Um único navio lista mais de 30 opções de cabines, com mais ou menos benefícios, o que impacta no preço e torna a escolha cada vez mais complexa. Ainda mais, desculpem o trocadilho, para marinheiros de primeira viagem. Afinal, qual é a diferença entre uma cabine interna e outra externa? Vale a pena pagar mais por uma varanda ou uma suíte?
Basicamente há quatro tipos de cabines: internas (de 13 a 20 m²); externas ou oceanview (de tamanho similar às internas, mas com uma escotilha que não abre, mas deixa entrar luz natural); externas com varanda (de 13 a 20 m² mais 3 a 5 m² de varanda) e suítes, muito maiores, algumas chegando a medir mais de 600 m³.
Os preços também se alteram conforme o deck – quanto mais alto, em geral mais caro, por estar mais próximo das piscinas, do spa e dos salões. A localização é igualmente importante – as que ficam no meio do navio são mais valorizadas por sofrer menos com o balanço no mar. Na popa também há mais estabilidade e mais s distância dos elevadores. Já na proa há duas questões: a área é afetada pelo movimento das ondas e é lá que fica a âncora. Ela irá acordar você de manhã bem cedinho, especialmente nos decks mas baixos, a cada atracação do navio.
Depois de quase 30 cruzeiros, eu me faço sempre as perguntas a seguir para conseguir o melhor custo-benefício. Faça também essa análise antes de fechar a viagem.
Quanto tempo você ficará na cabine? Não importa quantos portos você visitará. Você terá de se sentir confortável no seu espaço a bordo. ageiros que moram em grandes cidades e estão habituados a apartamentos compactos sentem-se menos confinados numa cabine interna, sem qualquer luz natural, do que quem mora no campo, numa casa espaçosa com jardim. O espaco também não é tão vital assim se você é do tipo que a o dia todo na piscina e vira a noite dançando. Mas para quem planeja ler muitos livros, assistir filmes e ficar relaxando no quarto todas as tardes e à noite, após o jantar, um pouco mais de espaço é bem-vindo.
Economizar é sua prioridade? Cabines internas são sempre mais baratas do que as outras pelo fato da metragem reduzida e da ausência de janelas ou varandas. Há situações em que faz sentido escolher uma delas. São perfeitas para roteiros curtos, de 2 a 3 dias. E também quando você viaja sozinho e não conseguiu reservar uma daqueles raras cabines singles. Também famílias as reservam, com os pais numa externa e as crianças numa interna no mesmo corredor. Com certeza, é bem melhor do que ficar espremidos numa externa para 4 pessoas, com uma cama queen e 2 camas suspensas. Algumas companhias tem inovado para tornar a cabine interna mais atrativa. Na Royal Caribbean, por exemplo, o Navigator of the Seas oferece cabines internas com uma janela dando para um pátio central, cheio de restaurantes e outras atrações. Já a Disney Cruise Line, especialista em roteiros para famílias, tem cabines internas diferenciadas nos navios Fantasy e Dream. Maiores do que as convencionais, têm uma escotilha “mágica” que mostra, em tempo real, vistas do oceano e personagens animados da Disney. O sucesso é tão grande que a ideia é
estender a oferta em todos os seus navios.

Você precisa mesmo de uma vista livre do exterior?
Quando você examina o mapa do navio vai perceber que há cabines externas, as chamadas oceanview, com vista parcialmente ou totalmente obstruida. Isso acontece também com as externas com varanda que encontram-se na altura dos barcos salva-vidas ou de outro maquinário que o navio carrega. Muitos ageiros as preferem porque podem economizar e, ao mesmo tempo, desfrutar de ar fresco e luz do sol.
Você necessita de uma varanda? A varanda é sempre um plus. Dã um toque de glamour à viagem e serve para tomar o café da manhã, observar o pôr do sol ou só relaxar longe das multidões. Por isso as companhias marítimas têm inaugurado mais e mais navios quase que exclusivamente com varandas. Mas atenção: o nível de privacidade é variável em cada navio porque o tamanho também é, especialmente nas cabines da popa. Por razões arquitetônicas, uma cabine com uma varanda maior pode ter nos decks acima cabines com varandas menores, o que significa que seus vizinhos vão observar todos os seus movimentos embaixo. Verifique esse detalhe no mapa do navio.

Qual lugar do navio você vai frequentar mais? Isso faz toda a diferença na hora de decidir. Lembre-se que os navios atuais levam 2 mil, até 3 mil ageiros ou mais, e enfrentar fila no elevador várias vezes por dia acaba com suas férias. Há cabines com fácil o à piscina, por exemplo, mas não são as melhores se você tem sono leve. O mesmo acontece com as que estão abaixo do restaurante. O movimento começa antes de amanhecer para o café ser servido a partir das 7 horas. E, se você viaja com crianças, verifique a distância entre sua cabine e o kids club é um ponto importante.
Há vantagens adicionais em cabines da mesma categoria?
Em alguns navios há uma joia escondida. No Dream, Magic e Breeze, da Carnival Cruise Line, existem cabines oceanview com um bônus adicional – um segundo banheiro, com pia e vaso. Para uma família, o fato de 2 pessoas ficarem prontas ao mesmo tempo para o jantar, por exemplo, é uma grande vantagem.
É melhor ficar perto ou longe dos elevadores? Perto significa uma cabine com mais barulho, mas menos locomoção. Para alguns ageiros – pais que transitam com carrinhos de bebê, idosos e qualquer pessoa com problemas de mobilidade – isso é fundamental. Tenha em mente que navios hoje chegam a mais de 300 metros de comprimento. Essa proximidade é também uma forma de evitar os carrinhos de serviço da tripulação que transitam pelos decks várias vezes por dia.

Qual o segredo para economizar uma vez que eu já decidi a categoria? Escolher uma cabine garantida é a forma mais econômica de viajar na categoria que você deseja. Mas você só vai saber o número dela alguns dias antes da viagem e pode ter uma surpresa – receber uma cabine bem mal localizada ou, em caso de lotação da categoria escolhida, ganhar um upgrade até para uma suíte.
Qual lado do navio é melhor – bombordo ou estibordo?
Faça uma escolha errada e você não terá muito para ver da varanda. Quando se está dentro de um navio olhando para para a proa, bombordo é o lado esquerdo da embarcação e estibordo o lado direito. Em certas rotas, como nos fiordes chilenos ou no Mediterrâneo, a vista é parte importante da experiência. Você pode ficar uma manhã inteira irando as montanhas de picos nevados no Chile em pleno janeiro ou se deslumbrando com o cenário ao chegar em Veneza. Por isso, se o navio está descendo a América do Sul pelo Pacífico, você deve escolher cabines a bombordo. Ao contrário, se estiver subindo, fique com as que estão a estibordo.
E se eu enjoar? Isso varia de pessoa para pessoa, mas quem tem o problema deve buscar cabines que estão no meio do barco. São onde se sente menos o balanço caso ocorra uma tempestade ou um mar mais agitado. Há rotas que são tranquilas como o mar Báltico. Mas o mesmo não se pode dizer do Cabo Horn, no extremo sul da Argentina, ou do Triângulo das Bermudas, onde vários navios naufragaram no ado. Por isso, algumas empresas marítimas aram a oferecer cabines internas com varandas virtuais que amenizam os sintomas. E, por favor, caso você enjoe, não fique trancado na cabine. Isso só piora a situação. Existem muitas receitas para ajudar. Desde respirar ar fresco no convés a comer um sanduíche de pão francês com queijo amarelo mais duro. O hospital de bordo também fornece uma variação do nosso Plasil e você pode trazer na bagagem càpsulas de Sailor´s
Secret, com gengibre, vendidas em qualquer farmácia dos Estados Unidos. Comprar na loja de bordo aquelas pulseiras anti-enjoo com ponto de pressão também é uma solução.

Você é sensível ao barulho? Nem sempre uma cabine que parece isolada no mapa de bordo oferece silêncio para dormir. É preciso verificar o que há no deck acima ou abaixo e como isso impacta na sua rotina. E, atenção, todos os navios tem cabines a evitar. Se você ficar abaixo do andar das piscinas com certeza ouvirá o barulho das máquinas e o arrastar de cadeiras de manhã bem cedo. Acima do teatro ou da discoteca, pode ser um problema caso você viaje com crianças pequenas que dormem cedo ou você mesmo prefira isso.
Viajando em grupo, o que é melhor: cabines próximas ou não? A idade dos participantes e o tamanho do grupo afetam essa decisão. Para um grupo de velhos amigos cabines próximas são adequadas. Mas se você vai com filhos mais velhos o ideal são cabines conectadas, que dão privacidade e são bem mais baratas do que uma suíte. Duas cabines externas com vista obstruída, por exemplo, são uma ótima escolha. Não haverá congestionamento no banheiro e cada grupo terá sua própria TV. A Holland America tem muitas cabines interconectadas, enquanto a Norwegian Cruise Line é mais limitada. Mas para algumas famílias deixar os filhos adolescentes numa cabine em frente a dos pais, no caso uma interna, por exemplo, confere uma sensação de independência para os jovens. Quando se trata de um grupo grande que precisa de muitas cabines e não há disponibilidade para o mesmo deck, o ideal é distribuir no andar acima ou abaixo na mesma posição, o que permite o uso da mesma escada de o ou elevador entre
os andares. Tenha em mente que os navios são grandes e fica difícil se cada um estiver numa extremidade.

Cabines concierge e suítes são para mim? Cada vez mais, as linhas marítimas querem transformar o navio na parte mais importante da viagem e criar áreas exclusivas. A proposta é criar um navio dentro do navio. O nível concierge engloba cabines com varanda e mais um concierge, claro, que auxilia na reserva de excursões nos portos, marca lugares nos restaurantes e oferece um menu de travesseiros. Seus ageiros têm prioridade no embarque e desembarque, champanhe na chegada e frutas frescas todos os dias. Geralmente tem banheira, binóculos para irar detalhes da paisagem e até guarda-chuva. Em alguns navios, há um lounge especial, com café, sucos e guloseimas servidos o dia todo, além de convites para muitos coquetéis. Já viajar numa suíte significa experimentar um patamar ainda mais alto. Elas são realmente um luxo. Muitas têm uma área de dormir separada da sala de estar, algumas vem com sala de jantar, mais de um banheiro e banheira de hidromassagem na varanda. E, claro, há as que incluem um mordomo (treinado e certificado, garantem!) para fazer e desfazer as malas e servir as refeições na cabine. Em alguns navios, as suítes têm seus próprios restaurantes, solário e piscinas, e os ageiros desfrutam de um bar na cabine abastecido diariamente. Na Norwegian Cruise Line, oculto no topo do navio, está The Haven, que reúne acomodações espetaculares de até 620 m³, com 3 dormitórios para 8 pessoas. Se você ficou interessado,
consulte as saídas. Sempre há promoções e mesmo que o orçamento não permita um cruzeiro longo, por que não usufruir dessa mordomia numa viagem curta, de 3 dias, por exemplo?
Na próxima coluna, darei uma sugestão de cruzeiro: pelo mundo gelado da Antártida. Acompanhem!

Lorien Saviano
Editora de Turismo do Shopping News
Editora de Turismo do Jornal da Tarde
Editora de Texto na Voice Comunicação
Assessora de Imprensa da ABAV (Associação Brasileira das Agências de Viagens)
Redatora e Tradutora dos guias Frommer’s e Fodor’s para a Júlio Louzada Publicações