No último sábado, 20 de julho, Cotia sediou um dos eventos da Conferência Internacional das Favelas (#CIF20). A primeira, lançada oficialmente em 29 de abril no Rio de Janeiro pela Central Única das Favelas, Frente Nacional Antirracista e Frente Parlamentar das Favelas, marcou o início de uma série de eventos em mais de três mil favelas no Brasil, nos 27 estados brasileiros e 41 países. Essas conferências, que seguem até setembro de 2024, têm como objetivo central colocar a favela no mapa do G20, trazendo contribuições de todas as regiões do Brasil, das Américas, da Europa, África, Ásia e Oceania, organizando questões sociais e econômicas específicas desses territórios para endereçá-las aos tomadores de decisão como parte da agenda do G20. Cotia foi uma das regiões escolhidas para sediar a CIF20. O evento, realizado no Auditório da Prefeitura de Cotia e organizado pela CUFA Cotia, contou com a presença da vice-prefeita de Cotia, Angela Maluf, Carlos Alexandre Domingos da Silva, Secretário Municipal de Desenvolvimento Habitacional, Relações Comunitárias e Favelas de Ferraz de Vasconcelos, lideranças das favelas e representantes da sociedade civil.
Foram debatidas propostas para os quatro eixos definidos: Eixo 1 – Redução das desigualdades, combate à fome e à pobreza ; Eixo 2 – Sustentabilidade; Eixo 3 – Direitos humanos, raça e gênero; Eixo 4 – Desafios globais enfrentados pelas favelas e periferias.
A geração de renda para mães foi um dos pontos debatidos: “Muitas mulheres não podem trabalhar fora pois não têm onde deixar seus filhos, se tiverem trabalhos para fazer em casa, podem conciliar. “, destacou Tatiana Silva Santos, líder comunitária da Favela do Mandelinha. A saúde mental também foi destaque, já que muitas sofrem violência doméstica ou são sobrecarregadas e adoecem, comprometendo a sustentabilidade financeira da família: “Mulher é a base, elas precisam de apoio, muitas vezes sequer podem se deslocar ao serviço municipal CAPS (Centro de Atenção Psicosocial) ou desconhecem”, afirma Ivone Rodrigues, líder comunitária da Favela do Lava Pés.
A educação de jovens também foi discutida, tanto a importância de ampliar o o a cursos profissionalizantes, como incentivá-los a permanecer na escola e finalizar os estudos. Anderson Gustavo Pereira de Oliveira, representante do Morro do Impirio, apontou a necessidade de conscientizar os jovens sobre a importância da educação e a prática de esportes sobre um caminho para isso.
A falta de saneamento básico foi um dos aspectos discutidos. Cotia possui mais de 19 mil fossas sépticas e mais de 8 mil fossas rudimentares, que poluem diretamente o meio ambiente, segundo dados oficiais. Em relação às mudanças climáticas, um
dos participantes alertou para o “racismo climático”, termo que contempla o quanto os efeitos de tragédias climáticas impactam de forma desigual a população, estando mais vulneráveis principalmente as que pessoas que moram em favelas.
Representantes do Movimento ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – também estiveram presentes. Nina, coordenadora do Movimento ODS Estadual de SP, colocou-se à disposição do poder público de Cotia para trazer o núcleo para o município, que já existe em Barueri.
O racismo e a intolerância religiosa nas favelas também foram discutidos no evento. Segundo o advogado Walter Gonçalves Sampaio, Presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Racial da OAB Cotia e Membro do Conselho da Promoção da Igualdade Racial da Cidade de Cotia, “o negro favelado está na interseção entre o preconceito racial e a desigualdade social. Boa parte das pessoas que moram em favelas não têm consciência das opressões que vivem e a educação possui um papel importante neste contexto. O negro favelado, precisa se conscientizar das diversas violações e violências que lidam diariamente.”. Sobre a intolerância religiosa, Walter lembrou que, assim como o racismo, ela está desde o período colonial atrelada à formação da sociedade brasileira. Infelizmente, a liberdade religiosa, assegurada pela Constituição Federal, ainda não é uma realidade, “a intolerância religiosa mata”, afirmou Walter.
O evento foi finalizado com homenagens às lideranças das favelas: “aproveitamos o momento tão importante para homenagear nossas lideranças, nossas autoridades das favelas, os primeiros lugares foram deles, eles são incríveis”, afirmou emocionada Lucia Rossetti, presidente da CUFA Cotia.
Outros encontros serão promovidos pela Cufa Cotia para dar continuidade às questões a serem discutidas. Saiba mais no Instagram @cufacotia.
Ver essa foto no Instagram