A REVISTA CIRCUITO convidou algumas pessoas para matar a saudade do ado e ajudar a recontar a história do município.
Ao escrever a história de Cotia, é impossível não fazer menção às famílias tradicionais que contribuíram para o desenvolvimento econômico, político e social da cidade.
E prolongam esta contribuição, de geração em geração. Os atores desta história, sejam eles coadjuvantes ou não, continuam em plena atividade, dando prosseguimento a um trabalho que começou décadas atrás.
Todos os sobrenomes citados nesta matéria continuam aumentando a capacidade produtiva da cidade, seja na geração de empregos, nas ações sustentáveis, na construção e na garantia de uma melhor qualidade de vida nas comunidades em que estão inseridos.
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Casamento de Adrian Serrano, em 1959, com Maria Helena Ferrari |
Família Serrano
Adriano Serrano, aos 74 anos, conta, com entusiasmo, como começou sua história com a região. História que, independentemente dos altos e baixos da vida, tem como capítulo atual a formação de uma família que ama e respira a Granja Viana, cujo centrinho é conhecido como Serrano, sobrenome dos ascendentes portugueses que chegaram ao Brasil em 1952.
Adriano veio acompanhado dos pais, irmãos e outros parentes que fugiam da ditadura de Antônio Oliveira Salazar. Na época, estava no auge de sua juventude, com 14 anos comemorados dentro do navio que o trazia para cá. Apesar de muito pouco na bagagem, já vinha com a esperança de uma vida melhor.
Antes de chegar à região, habitou no bairro do Butantã, em São Paulo, onde morou em barraco de tábua e suou a camisa para diminuir as necessidades comuns entre os imigrantes.
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Várias gerações da Família Serrano reunidas |
Em 1958, alugou um terreno de dois alqueires no Jardim da Glória, na Fazenda de João Paulo Ablas (que morreu em 1924) e Adozinda Lopes Ablas (que assumiu a istração da fazenda para arrendar uma parte às famílias de estrangeiros).
Dentre alguns chacareiros, foi sua a primeira chácara de verduras. A próxima seria aberta anos depois na Rua das Granjas. Para a surpresa de muitos, Adriano Serrano reclama da Raposo da década de 1950. “Era estreita e suja demais.” Segundo ele, onde é o Extra, no início da Rodovia, km 13, era um lixão, inclusive do outro lado, sentido São Paulo. O km 16, na entrada do Educandário, era um ponto de perigo, já que a poeira do lixo se misturava ao ar e dificultava a visão dos motoristas.
ados alguns anos e após se casar, Adriano foi para a Rua São Paulo (entre a Rua Dona Cherubina Viana e a Avenida José Félix de Oliveira). Mesmo aos 74 anos, ele lembra exatamente dos mínimos detalhes que caracterizavam o local. “O terreno era de um xará meu, criador de porcos, e tinha 1.999 metros quadrados. A casa era dividida; em uma parte eu morava com minha esposa, Maria Helena Ferrari Serrano (primeiro casamento) e, em outra parte, meus sogros”, lembra.
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Jose Félix de Oliveira – anos 80 |
Adriano conta, orgulhoso, que um dos maiores armazéns da Granja, naquela época, foi o seu e ficava exatamente onde hoje é o Restaurante Manacás ou Bar do Pescador, como é popularmente conhecido. A istração do armazém era dividida com o gerenciamento de uma padaria – na qual era também responsável pela distribuição dos pães –, concentrada onde atualmente funciona o novo centro comercial do Jardim da Glória. O armazém foi vendido e, anos depois, Adriano retornou para o bairro com a mesma proposta, a fim de retomar a clientela antiga, o que não deu certo.
Foi aí que se instalou de vez no centrinho da Granja. Sua casa era onde atualmente é o Cantinho do Pão. Começou a adquirir os lotes, construir e alugar. A José Félix era um brejo e, quando chovia, o lamaçal tomava conta de tudo. No tempo seco, ele e o irmão Manoel Serrano, fundador do Supermercado Serrano, molhavam a rua com mangueiras para controlar o pó que subia. “Aqui era rural; o oposto desta avenida riquíssima que temos a honra de ter aqui na Granja.” Grande parte do comércio da José Félix pertence à Família Serrano, e hoje é istrada pelos filhos de Adriano, homem de fibra que, apesar da idade, não abre mão de continuar o trabalho nesta terra que o acolheu e lhe concedeu a oportunidade de uma vida melhor. Atualmente, ele está no segundo casamento, com a Sandra, e tem um filho de 9 anos.
Família Mayor
Quem tem a oportunidade de conversar com dona Irene Mayor pode conhecer mais da história da Granja Viana. Apesar de ter se mudado para a região aos 59 anos – ela completou 100 anos no último mês de outubro –, visitava o bairro constantemente com a família desde que chegou ao Brasil, em 1936. No currículo, um curso de corte e costura feito em Paris logo lhe concederia uma oportunidade de trabalho.
Ela e a família moravam em São Paulo e já tinham uma propriedade em Carapicuíba quando a sua mãe, a eio, apaixonou-se pelo local e comprou um terreno à beira da Raposo, onde funciona atualmente a Polícia Rodoviária, no km 24,5.
A ideia não foi bem-vinda. O terreno era na beira da estrada e o movimento intenso traria preocupação. A família, então, voltou para visitar outros terrenos, logo foi escolhido um na Rua Santo Antônio. Assim também fez seu filho e sua irmã, que estava de casamento marcado. Irene foi a última a comprar a porção de terra, nessa época, já casada com José Mayor, que conheceu ainda criança durante as consultas no pediatra. “Brincávamos um com o outro”, lembra ela, com carinho, do esposo, que morreu em 2000.
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Dona Irene com os filhos; década de 80, na Granja. |
Ela recorda que, quando chegou à Granja, poucas propriedades existiam. Na memória, em evidência, estão os camponeses que trabalhavam para o Niso Vianna.
Outras famílias, amigos da Família Mayor, instalaram-se na região. “Como éramos todos conhecidos, formamos uma única e grande família. Fazíamos muitos jantares e festas nas casas uns dos outros. Tínhamos os filhos quase da mesma idade”, conta com emoção.
Quando chegava uma família nova, lá iam todos dar as boas-vindas.
Falar de
dias atuais desperta uma enorme saudade em dona Irene, que recorda o quanto a região era generosa. “Acho o progresso importante, mas descaracterizou a região; quando precisávamos de algo de São Paulo, uma amiga, a primeira a ter um carro, apertava forte a buzina para avisar que seguiria rumo à cidade. Ela dava carona a quem quisesse ir ou trazia as encomendas. Hoje somos todos dependentes do progresso. Ninguém vive sem carro, e as pessoas não são mais tão solícitas”, alerta dona Irene, que participou de quermesses na Igreja da Matriz, em Cotia, quando ainda morava em São Paulo.
Mãe de José Gonzaga, José Manoel e Maria do Carmo, e avó de nove netos, dona Irene Mayor continua fazendo história em terras granjeiras, seja como presidente da Casa de Apoio, onde está há 24 anos, ou como anfitriã de uma família que ajudou a construir a cidade.
Família Pedroso
Cheios de vida, simpatia e gratidão pelo povo cotiano, os irmãos Pedroso, com a ajuda dos filhos, istram com excelência as três unidades dos Supermercados Pedroso, cuja inauguração foi um marco histórico para Cotia e seu povo.
Silvio Pedroso (pai de Silvio, Hélio, Álvaro e Eduardo) assumiu, em 1945, um armazém que havia sido inaugurado em 1914 pelo pai, Joaquim Horácio Pedroso (Nhô Quim), com quem tinha uma sociedade.
A primeira nota fiscal, encontrada na Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, é de 1912, quando o pequeno armazém ainda levava outros nomes, como Casa São José e Empório Cotiano.
Em 1976, Nhô Quim morreu e os filhos de Silvio foram ocupando os espaços no mercado.
Na opinião de Silvio (filho), a realidade da cidade hoje é completamente diferente. “Nós nos divertíamos, andávamos sem medo, sentávamos na porta das casas para bater papo, jogávamos futebol; era muito bom. Além disso, a Raposo não era tão populosa; não existiam tantos veículos como hoje”, lembra. A Estrada São Paulo–Paraná ava por dentro de Cotia, e os viajantes pernoitavam em um bar na Rua Senador Feijó, onde hoje funciona uma papelaria. Segundo eles, o crescimento da cidade preocupa pela ausência de infraestrutura. “Uma hora não vai dar mais pra gente entrar na cidade”, diz Hélio.
A primeira loja, na região central, era pequena, e o número de clientes crescia. Foi então que surgiu a filial no bairro do Atalaia, em 1979, no terreno onde, atualmente, funciona uma farmácia.
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Abre as portas a Casa São José, onde, atualmente, está situada a loja do Pedroso, no Centro. |
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A Família Pedroso durante a inauguração do Pedrosão, em 2006, com os quatro irmãos e a mãe, Maria José Novaes Pedroso |
Em 1980, um incêndio no depósito da loja do centro destruiu grande parte do mercado. Alguns produtos foram salvos e liberados pelo seguro, que pagaria apenas um valor simbólico. Sem luz, os irmãos pegaram uma maquininha e fizeram um controle do que havia restado. “Nós fizemos uma queima para vender o que havia sobrado. E vendemos tudo. O povo comprou e ajudou a gente a recomeçar”, conta Álvaro. Com a ajuda de familiares e com o respaldo da loja do Atalaia, conseguiram segurar as pontas. “Não demos calote em ninguém, e muitos fornecedores nos ajudaram”, lembram. Seis meses depois, reinauguraram o espaço.
No dia 17 de maio de 2006, foi a vez de o Pedrosão abrir as portas, a terceira loja, situada no Parque Bahia, tão moderno quanto as lojas das grandes redes de supermercado. Tornou-se uma referência na relação comércio e cliente. Apesar de serem primos do prefeito da época, contam com orgulho que não tiveram uma regalia sequer na construção.
Quanto ao supermercado, evoluiu e cresceu, deixou de ser um armazém e se transformou em um modelo de autosserviço. Hoje, os clientes do Pedroso atravessam gerações. “Atendemos muitas pessoas de uma mesma família, avós, pais, filhos, netos; isso é uma gratificação pelo nosso empenho. Hoje o Pedroso é muito mais que um ganho; é um trabalho realizado por amor à cidade”, finaliza Silvio.
Família Pires
Um dos responsáveis diretos pelo crescimento da cidade chamava-se Ivo Isaac Pires.
E, ao citar este nome, deve ser lembrado também o nome do granjeiro Kenji Kira, que foi seu grande parceiro na longa trajetória política. Após ser vereador e vice-prefeito de Ivo, Kira foi indicado por ele para ser prefeito de Cotia.
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Mauro Pires conta com orgulho a trajetória do pai |
Ivo nasceu em Caucaia do Alto, no dia 22 de abril de 1922. E como não poderia ser diferente, o número da sorte do caucaiano Mauro Pires, filho de Ivo, é o 22! “Meu pai gostava muito deste número; tinha até na chapa do carro”, conta.
Antes de ingressar na política, Ivo foi um grande agricultor, vocação que descobriu ainda criança. Ele perdeu o pai cedo; sua mãe casou-se novamente e teve cinco filhos. Ivo optou por morar com outros parentes. Com 11 anos, foi para a roça, onde trabalhou como empregado por muito tempo e aprendeu bastante na colônia japonesa. Filho de Benedito Isaac Pires e Vicentina Pires de Oliveira (avós de Mauro), casou-se em 1944, aos 22 anos, com Sidrônia Nunes Pires, cujo pai era muito rico em terras; mais de 150 alqueires só em volta de Caucaia. Uma boa parte já foi consumida pelos novos condomínios que se instalaram na região ou se tornaram vilas e bairros. Ivo, acompanhado de sua esposa, foi morar na Estação, em frente à linha do trem, e lá fez sua vida. Teve os filhos (Mauro Pires é o segundo filho), começou a comprar terras, a plantar, e transformou-se em um grande líder. Por uns dez anos, ficou nesta vida e, então, tornou-se subprefeito de Caucaia.
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Foto oficial do casamento de Ivo Mario Isaac Pires e Sidrônia Nunes Pires, no dia 29 de janeiro de 1944 |
Não demorou muito e Ivo começou a ganhar popularidade. Em 1959, já batalhava a cadeira de vice-prefeito e foi muito bem votado em Cotia. De 1963 a 1968, assumiu o cargo de prefeito e, após seu mandato, indicou Kenji Kira para assumir a istração da cidade. Retornou à prefeitura em 1973 e, depois, em 1983. Nesta data, Quinzinho Pedroso ingressou na política e, em 1988, apoiado por Ivo e Mauro, foi o vereador mais votado da cidade. Durante os mandatos de Ivo, ele lutou para que o município viesse a se modernizar. Construiu o prédio da Prefeitura, do Fórum, do primeiro Posto de Saúde, implantou sistema de água, asfaltou algumas ruas que eram de terra ou
paralelepípedo e, ainda, começou a negociar com o estado. Tinha uma ótima relação com as primeiras-damas.
Mauro Pires relembra que entrou para a prefeitura em 1968 e continua seguindo os os do pai. Hoje, exerce sua função como secretário adjunto de Cultura e Turismo de Cotia.
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Anos 60. Campanha Eleitoral: Ivo para prefeito e Kenji Kira para vice. Reunião no Posto Iasi, no Portão, com muitos amigos |
A Estrada de Caucaia leva o nome de Ivo Isaac Pires até uma parte. Depois, a a ser Roque Celestino Pires, tio-avô de Ivo por parte de pai e irmão de Benedito Isaac Pires, membro da família que também foi homenageado com um endereço. Ivo, curiosamente, morreu no dia 22/12/2002.
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1) Em 1961, José Torrezani entrevista Jânio Quadros. Foi o primeiro jornalista a entrevistá-lo após a renúncia. A entrevista aconteceu em Cotia. 2) 1973.Nho-nhô fazendo casamento no cartó rio de Cotia ao lado de Dona Odete. Foi Juiz de Paz, confeiteiro, consertador de lâmpadas e tocava violão como ninguém. Teve um hino de sua composição tocado, inclusive, no Vaticano. 3) Paulino Nascimento quando foi vereador da cidade, em 1970. É sócio-diretor do Nascimento – Tudo para Construção |