“Bom dia, bem-vinda à ONU! Posso saber de quais países vocês são?” Era uma manhã bem fria e chuvosa e fui visitar o prédio da Organização que mais iro neste meio de Organizações Internacionais: a ONU. A sede da UN (United Nations), como é chamada em inglês, fica na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em um terreno de aproximadamente 7 acres. Mas o seu território não está incluído na jurisdição americana. É terra da ONU, sob as leis e às custas dos países que compõe a organização. Então, podemos falar que ali todos os países têm o seu cantinho e todo mundo pode estar no cantinho de todos. Mais do que natural a guia esperar que o grupo fosse formado por pessoas de mais de uma nacionalidade.
A Organização das Nações Unidas, ou simplesmente ONU, é uma entidade jurídica formada pela participação de vários governos do mundo. Foi estabelecida em 24 de outubro de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, na intenção de criar um espaço onde todos os países pudessem conversar livremente sem o risco de gerar uma guerra. Foi criada com a Carta das Nações Unidas, assinada por 51 membros e hoje possui algo em torno de 193 países associados. Cinco países – China, Estados Unidos, França, Rússia e Reino Unido – são fixos em um grupo do chamado Conselho de Segurança, suas decisões têm poder de veto ou de sanção em caso de ações sobre a paz mundial. A última grande decisão que permitiu uma ação em conjunto da ONU por força de votos desses países foi a captura de Sadam Russein no Iraque, em uma operação chamada de “Tempestade no Deserto”. Os objetivos da ONU estão na sua carta de fundação, sendo os principais garantir os Direitos Humanos, a Segurança e a Paz Mundial. Além também de ter vários grupos onde são discutidos diversos temas para auxiliar no desenvolvimento econômico e no progresso social dos países membros, além de ajudar na recuperação de locais que sofreram guerras.
O prédio foi projetado em um terreno doado pela família Rockfeller – uma das mais tradicionais na cidade de Nova Iorque. O desenho dos prédios foi realizado por um grupo de arquitetos representando 10 países, dentre eles estava o brasileiro Oscar Niemayer que projetou o principal espaço: a cúpula onde acontecem as reuniões da Assembleia Geral. Fontes não oficiais dizem que ele acabou fazendo todo o projeto. De um jeito ou de outro, dá muito orgulho ver o Brasil com um profissional em local de tanta importância mundial.
Localizado às margens do East River, na ilha de Manhattan, o prédio tem uma torre enorme, que lembra a dos ministérios de Brasília, onde ficam os escritórios dos funcionários das diversas missões e possui outras duas partes. Uma delas abriga os locais para as Assembleias. São cinco salas para esse fim: uma para as reuniões do Conselho de Segurança, outra para as Reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico, uma terceira para ações quanto à descolonização – atualmente desativada pois não há mais lugares considerados Colônias no mundo – uma quarta sala onde acontece a Assembleia Geral, onde todos os países estão presentes e cada um possui um voto, em pé de igualdade uns com os outros e uma quinta sala para reuniões diversas. Visitamos duas três dessas salas, onde não estavam acontecendo reuniões.
O formato de cada uma varia um pouco, mas é muito interessante ver as peculiaridades de cada lugar. Em cada assento há um fone de ouvido com o formato de uma orelha para que você possa ouvir uma das traduções simultâneas do que cada pessoa diz no palanque. São cinco as línguas oficiais da ONU: inglês da Inglaterra, francês, espanhol, árabe e chinês(mandarim). Cada pessoa que discursa fala em sua própria língua, e é traduzida de forma simultânea para quem assiste. A sala sobre desenvolvimento econômico tem o teto construído apenas pela metade, para que as pessoas que estiverem trabalhando lá sempre sejam lembradas que o desenvolvimento dos países é algo em construção, sempre acontecendo. A sala da Assembleia Geral tem mesas duplas, para que os representantes de dois países sempre sejam obrigados a sentar juntos, de forma a serem sempre lembrados que não estão sozinhos nas decisões que tomarem e nem no que falarem. Em cada sala há uma obra de arte com um significado expressivo. Na sala da descolonização, por exemplo – onde recentemente a garota Malala discursou, bem como a Emma Whatson (a Hermione do Harry Potter) também – está a escultura de uma garota soltando um pássaro no ar, lembrando a sensação de liberdade que um país tem ao deixar de ser uma colônia.
O corredor que liga essas salas também é cheio de Histórias interessantes e que deixam a gente pensando sobre o mundo. No lugar por onde entram os representantes de Estado há dois painéis enormes do artista brasileiro Candido Portinari – olha a gente de novo em local de destaque – chamado de “Guerra e Paz”. Eu só consegui ver metade, o “Guerra”, porque o “Paz” somente pode ser visto pelos líderes de Estado. Lembre, eu estava no lugar por onde circulam os visitantes, o povo. Por isso, as obras com diferente perspectiva. Nesse mesmo hall há um tapete enorme da Bélgica, lembrando a paz. Caminhando pelo corredor vemos também um barco de três metros, com cabeça de dragões, maquetes de templos, todos de puro ouro, dados pelo governo da Tailândia, uma monarquia que existe até hoje e cujos integrantes têm status de deuses. Quase ninguém sabe sobre isso da Tailândia, um dia podemos tratar disso por aqui. Continuando o eio por esse corredor das artes do mundo, encontramos outro brasileiro. É a obra do artista Otávio Roth, que em 1978 esculpiu em madeira todos os Direitos Humanos, de acordo com o texto de Eleanor Roosevelt. Direitos esses defendidos até hoje pela ONU. Está no Guiness Book, o livro dos recordes, como o texto mais traduzido no mundo inteiro. O desenho oficial é de um brasileiro. Terceira presença marcante do Brasil.
Ali ao lado dessa obra, há o feito de pequenos vidros por um artista italiano, onde várias religiões do mundo estão representadas com a regra de ouro: “Faça aos outros o que deseja que seja feito para você.” Deixa a gente pensando que todas as religiões poderiam conviver no mundo de forma harmônica, sem guerras ou brigas.

Continuando, logo ali ao lado, há uma exposição sobre as minas terrestres desativadas mundo afora. Há muitas minas enterradas em locais de guerra ainda, deixando vários civis mutilados quando, sem querer, pisam nelas. O pós-guerra é algo muito complicado, quase ninguém pensa que as bombas jogadas e não explodidas na hora, as minas enterradas podem custar vidas para dali a muitos anos ou mesmo séculos depois do fim da guerra. Até saiu no Jornal Nacional no ano ado, 2018, a notícia de uma bomba da segunda guerra que foi encontrada ativa em Hong Kong. Essa bomba causou a evacuação de um bairro inteiro por dias, até que ela fosse desarmada. Porque, se explodisse, poderia destruir todo aquele local, visto que ainda tinha o mesmo poder de explosão de quando foi lançada, a mais de sessenta anos.
Bem, quando o assunto é Guerra esta visita é chocante. Nesse corredor, há o registro do efeito catastrófico das bombas nucleares de Hiroshima e de Nagasaki. Lembra disso das aulas de História da escola? Há dois painéis na parede registrando as fotos tiradas minutos antes e minutos depois do lançamento das bombas. Vemos que onde existiam cidades antes das bombas, tornaram-se vazios depois, apenas os rios permaneceram no lugar. Nesse mesmo local há objetos encontrados após os lançamentos das bombas. As porcelanas estão derretidas, os vidros distorcidos, até mesmo de uma criança em um uniforme vemos apenas os trapos de pano. Acharam uma estátua de pedra de Santa Agnes, caída em frente à igreja católica de Hiroshima. Resgataram e levaram para esse memorial. As costas da Santa está toda deformada, os demais locais onde a radiação pegou também. Então, se a bomba faz isso com uma pedra, imagine com um ser humano? E mesmo muito triste, devemos guardar para não esquecer e nem repetir.
Há um com a localização das missões de paz da ONU pelo mundo afora, muito legal ver onde estão fazendo monitoramento de áreas pós-conflito ou mesmo tentando evitar guerras. Fotos de pessoas com os famosos Capacetes Azuis – os capacetes oficiais que são utilizados pelos soldados da ONU em ação– mostram quem está em campo, colocando a sua pele em risco para garantir a paz do mundo. Vemos gente de várias nacionalidades. Lembremos que Brasileiros também estiveram nessas missões. Na MINUSTAH, a missão de manutenção de paz no Haiti. Olha lá a gente de novo! Ao lado dos capacetes há o mapa com as missões de manutenção de paz no mundo que estão ocorrendo agora e também a medalha do prêmio Nobel, recebida pelos Capacetes Azuis e suas missões. É emocionante ver tanta gene dando as suas vidas pela paz.
Ah, esqueci de falar, no meu grupo havia um Israelense, uma família Libanesa, um grupo Japonês e eu, do Brasil. Todos esses lugares já estiveram ou ainda estão sofrendo consequências da Guerra, menos nós. Que alegria pensar que o nosso país resolve as coisas de outro jeito. Já participamos de várias guerras e também fizemos guerra civil. O meu avô perdeu os movimentos de uma das pernas servindo pelo Brasil na Segunda Guerra Mundial, mas, ainda assim, o Brasil procura resolver as coisas de outro jeito. Assim ele me ensinou também. A guerra é ultimo recurso, ainda bem.


Onde saber mais:
Site das Nações Unidas em inglês: http://www.un.org/en/
Site das Nações Unidas em português: ONU Brasil, https://nacoesunidas.org/
Declaração Universal dos Direitos Humanos: https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf
Xilografias de Otávio Roth: https://nacoesunidas.org/apos-30-anos-xilogravuras-da-declaracao-dos-direitos-humanos-sao-expostas-no-brasil/
Discurso de Emma Whatson, a Hermione do Harry Potter, legendado em português: https://www.youtube.com/watch?v=CT9-CF3Wpmo
Discurso de Malala, a pessoa mais nova a ganhar o prêmio Nobel na História, legendado em português: https://www.youtube.com/watch?v=77ZIbt-_5lo
[1] N. D. Bassov (União Soviética), Gaston Brunfaut (Bélgica), Ernest Cormier (Canada), Le Corbusier (França), Liang Seu-cheng (China), Sven Markelius (Suécia), Oscar Niemeyer (Brasil), Howard Robertson (Reino Unido), G. A. Soilleux (Australia), and Julio Vilamajó (Uruguai).
Mariana Nogueira Machado Simões
Advogada, especialista em Gestão e Tecnologia Ambiental, com atuação em desenvolvimento urbano, brasileira, amante da natureza, iradora dos povos e das culturas do mundo.