Assim que soube deste pedal, fiquei muito interessada em participar. Ele representava não só a realização de um sonho de descer a Serra de Santos em um dia cheio de aventuras, mas também a carência de eios como este, já que nossa comunidade ciclística sofre com violência, alta criminalidade em roubos de bikes, sequestros e somos proibidos de descer a Serra. Mas este seria um eio altamente organizado, com muita segurança e apoio médico.
Mas acima de tudo, me solidarizei de imediato com a idealizadora desse sonho, chamada Marcia Prado, que tanto lutou pelo direito de ir e vir dos ciclistas e organizou a primeira “Descida de Santos” do ano ado, que por falta de apoio do governo, culminou em confronto dos ciclistas com a polícia na chegada a Santos. Infelizmente, ela veio a falecer em um atropelamento, enquanto pedalava na Avenida Paulista, isso me comoveu e me impulsionou a lutar pela causa.

Acordei às 5 da manhã no último domingo (02/12), rumo ao metrô, que já estava preparado para a movimentação dos quase 40000 ciclistas participantes. Foi muito bacana de ver todos os vagões sendo ocupados por aquela multidão de bikes vindas de SP inteiro rumo a Estação Sacomã. Chegando lá, o policiamento já estava de prontidão, ruas interditadas por cones e toda a indicação do caminho para a Anchieta muito bem feita.

Iniciei meu pedal com minha parceira inseparável de bike, a Laura, ligamos o Strava (aplicativo que marca toda a trajetória do pedal, distância, altimetria, tempo, etc) e me joguei com a multidão rumo à estrada.

O início da Anchieta parecia um mar de bikes, quase não conseguia ver o asfalto, uma loucura emocionante! A velocidade permaneceu bem baixa até chegar na Represa Billings, onde tinha um afunilamento até um apoio com abastecimento de água e posto médico.

Depois disto foi só alegria, pedalando livre em velocidade maior e as bikes mais dispersas, com uma felicidade indescritível de sentir o vento batendo no rosto e aquele visual maravilhoso que dá para curtir quando estamos de carro.
Quase na descida da Serra, tinha outro posto de apoio com mais um trecho de lentidão. Aproveitei para encher minha garrafinha e entrar na parte mais linda da descida, repleta de curvas, mata mais fechada e os tuneis. Confesso que até me emocionei quando entrei no primeiro, tive que pegar o celular para registrar um vídeo daquele momento! Incrível ver tudo aquilo sem nenhum carro, tudo tomado só pelas bikes, as pessoas gritando e vibrando e os sons ecoando no túnel!

Infelizmente, como nem tudo e só alegria, nesta parte da descida onde a velocidade aumentou, começaram a acontecer alguns acidentes, a maioria por imprudência, outros por inexperiência. No segundo túnel, um ciclista sendo atendido com traumatismo craniano, você a e sente um pesar, diminui a velocidade, o prazer se esvai com a tristeza, mas enfim segue em frente vendo tantas outras quedas menos graves.

Parei duas vezes em mirantes com vistas espetaculares da estrada, com sua mata e pontes deslumbrantes e depois com a vista de Santos e braços de mar, tudo encantador!

A chegada em Santos foi muito organizada, a polícia nos recendo e indicando o caminho para a praia, tudo por ciclovias que pareciam um tapete!

E finalmente cheguei na praia, aquela sensação de sonho realizado, as fotos finais em frente ao marzão, segurando as magrelas com muito orgulho! Parada para almoço com uma cerveja mais do que merecida. Uma multidão de bikes espalhadas pelos quiosques e calçadão, literalmente “Nós vamos invadir sua praia!”. Uma super vibe e o tempo ajudando com um sol inesperado!

Depois do almoço, já tinha minha agem de ônibus comprada para o retorno a São Paulo. Houve confusão na rodoviária pelo excesso de ageiros e bikes, causando um bom atraso na saída do ônibus, mas tudo acabou dando certo. Voltamos todos felizes, conversando e trocando as experiências que cada um viveu no eio.

Enquanto isso, estava sendo assinado o projeto que oficializa a criação de ciclovias em varias estradas do nosso Estado, não valeu a pena?

 

 

Karina Reina Vianna é dentista, professora de implante,prótese e reabilitação oral e diretora da Associação Brasileira de Analgesia e Sedação. Nas horas vagas, pedala.

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