Região em alerta com registros de barbeiros

Ninhos do inseto responsável pela Doença de Chagas foram encontrados em Carapicuíba, Embu das Artes e Taboão da Serra. Animais silvestres como gambás, saguis e pequenos roedores podem transportar o inseto que transmite a doença

Apesar de ter recebido, em 2006, o selo da Organização Mundial da Saúde que certifica o país como livre da transmissão da doença de Chagas pelo inseto barbeiro (Triatoma infestans), a doença continuou circulando no Brasil por meio de outras formas de transmissão, especialmente a oral, que ocorre na ingestão de alimentos triturados com o inseto, como a cana-de-açucar e o açaí por exemplo.
Os insetos são hospedeiros do Trypanosoma cruzi, o protozoário causador da doença de Chagas, que é incurável.
E voltou a assombrar. Desde dezembro do ano ado, quando foi encontrada uma colônia com 57 insetos em ninhos de gambás no telhado de casas na região da Fazendinha, em Carapicuiba, moradores e o departamento de zoonoses da cidade estão em alerta.
Mais comum nas cidades do interior, devido maior incidência de áreas de mata, nos últimos dois meses o pequeno inseto amedronta a Região Metropolitana de São Paulo.  Além de Carapicuíba, nos últimos cinco anos pelo menos 135 insetos foram encontrados em cidades da região. Desses, 0,08% estavam infectados com o Trpyanossoma. O risco de contaminação é pequeno neste caso.
Mas em Taboão da Serra, segundo matéria publicada na UOL, 47% dos barbeiros encontrados em residências estavam infectados. E em Embu das Artes, foram encontradas fêmeas com ovos em ninhos embaixo de colchão, mas ainda segundo o UOL, os moradores não foram infectados. Santana de Parnaíba também registrou aparecimento do inseto.

Foto: Fiocruz

Ações de prevenção
Os insetos encontrados em Carapicuíba também não estavam infectados, segundo informou Regiane Souza, veterinária do departamento de zoonoses da cidade. “Os exames laboratoriais felizmente resultaram negativos para o Trypanossoma Cruzi.”
Mas a veterinária explica que ainda assim é importante que moradores fiquem atentos quanto a presença desses insetos que são trazidos por animais silvestres como gambás, saguis que estão cada vez mais próximos às residências e até mesmo animais domésticos como cães e gatos. Tocos de árvores e pássaros também são responsáveis por transportar os insetos.
Com o apoio da Sucem – Superintendência de Controle de Endemias do Governo de São Paulo, Regiane diz que distribuiu informativo para orientar os moradores sobre o inseto, a doença de chagas e suas complicações.  “Muito comum as pessoas confundirem o barbeiro com a “maria fedida” que é muito semelhante.
No caso específico da Fazendinha, uma região de muita área verde e habitat de animais silvestres, a orientação da veterinária é evitar o contato e impedir a proximidade deles. Cercas e telas nos quintais são as sugestões de Regina, uma vez que matar os animais está completamente fora de cogitação.  A veterinária disse ainda que o departamento de zoonoses segue com orientação e campanha de conscientização aos moradores.
Em Cotia não há relatos de ninhos do mosquito. Perguntada, a Secretaria de Saúde não respondeu se recebeu algum chamado de moradores nem tampouco se pretende fazer algum sistema de alerta ou investigação na cidade.

Doença de chagas
Mesmo com o controle da ocorrência de novos casos em território nacional, a magnitude da doença de Chagas no Brasil permanece relevante, segundo o Ministério da Saúde.
Estudos recentes estimam que a infecção atinge de 1% a 2,4% da população, o equivalente a 1,9 a 4,6 milhões de pessoas. A taxa de mortalidade (entre 2014 e 2015) foi de 2,19 a cada 100 mil habitantes, de acordo com dados do Datasus, do Ministério da Saúde.
Em Cotia,  Secretaria de Saúde informou que  entre os anos de 2007 e 2018, foram notificados oito casos. “Importante mencionar que, de todos os casos notificados, nenhum se tratou de caso autóctone – contraído dentro do próprio município de Cotia”, esclareceu.
Em 2019, a Vigilância Epidemiológica registrou a notificação de um caso.
O parasita foi descoberto pelo médico e cientista Carlos Chagas, daí o nome da doença.  Segundo os dados levantados pela Sucen, esse inseto de hábitos noturnos vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos de árvores e embaixo de pedras.
Na verdade não é  picada do mosquito que transmite a doença de chagas ( o inseto se infecta ao sugar o sangue de algum animal como gambás ou pequenos roedores contaminado pelo Trypanossoma).
De acordo com informações divulgadas pelo FioCruz, a transmissão acontece pelas fezes do “barbeiro” depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue.
A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele.
Outros mecanismos de transmissão são a transfusão de sangue de doador portador da doença, a transmissão vertical via placenta (mãe para filho). A outra forma de contaminação é através de alimentos como já mencionado.
Febre, aparecimento de gânglios, crescimento do baço e do fígado, alterações elétricas do coração e/ou inflamação das meninges nos casos graves. Na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados a distúrbios no coração e/ou no esôfago e no intestino. Cerca de 70% dos portadores da doença permanecem de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença.
A prevenção da doença de Chagas está intimamente relacionada à forma de transmissão. De acordo com o Ministério da Saúde, uma das formas de controle é evitar que o “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada.

“Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, podem-se usar mosquiteiros ou telas metálicas.”
Quando o morador encontrar o inseto devem entrar em contato com o departamento de zoonoses da Secretaria de Saúde.  Recomenda-se:
– Não esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto;
-Proteger a mão com luva ou saco plástico;
-Os insetos deverão ser acondicionados em recipientes plásticos, com tampa de rosca para evitar a fuga, preferencialmente vivos;
Serviço
Departamento de zoonoses de Cotia: Fone: 4616-6493.
Departamento de zoonoses de Carapicuíba: Fone: 4164-3866
(matéria atualizada as 10h05 de 09/08)
Por Sonia Marques,
com informações do Ministério da Saúde e Fiocruz

Artigo anteriorArtista plástico, poeta e músico são as atrações do Sarau na Garagem desta sexta-feira
Próximo artigo“Rendeu chamados para a empresa”