Simone Zucato por Simone Zucato. Quem é você?
Sou alguém que corre atrás daquilo que quer e que sabe o que quer. Simples, sonhadora, sensível e batalhadora.
Quando descobriu sua veia artística?
Não tenho um momento definido que eu me lembre. Acho que nunca tive uma “descoberta”. Sempre soube o que queria, o que gostava. Não tive que pensar o que queria ser, eu já sabia.
Tem alguém que te inspirou?
Muitas pessoas me inspiram na vida. Como força, meus pais me inspiram. Como produtora é Clint Eastwood. Como atriz, Meryl Streep. Como mulher, Oprah Winfrey. Como beleza, Angelina Jolie. E também amo o senso de humor de Ellen DeGeneres.
Qual são suas referências na tevê e no teatro?
Tenho tantas… Não só mulheres. Amo o trabalho de alguns atores e as sutilezas e a versatilidade me chamam a atenção. Não tem como não falar de dona Fernanda Montenegro, de Elizabeth Savalla, de Lilia Cabral, de Drica Moraes, de Adriana Esteves, de Zezé Polessa, de Ana Cecília Costa, de Andréa Beltrão, de Fabiula Nascimento, de Débora Falabella, de Marjorie Estiano, de Leandra Leal, de Fernanda Freitas, de Vanessa Giacomo… lá fora também observo muito o trabalho de Meryl Streep, de Laurie Metcalf, de Juliette Binoche, de Natalie Portman e Annaleigh Ashford. Sem falar que sou fascinada pelo trabalho de Tony Ramos, Tom Hanks e Bryan Cranston.
Você também é médica, certo? É uma médica que é atriz ou uma atriz que teve que fazer medicina?
Meu pai queria que eu fosse médica porque achava que a vida de atriz não seria algo muito estável. Sou a atriz que teve que ser médica. Trabalhei como clínica médica e geriatra. E durante as horas que ava num hospital ou numa clínica, era médica mesmo. É uma profissão que não tem como ser pela metade. Você tem que estudar, se reciclar e ser bom no que faz. E eu sou cê-dê-efe e capricorniana. Então, sempre exerci a medicina da melhor forma possível.
Pensa em voltar a clinicar?
Não posso dizer o que vai acontecer amanhã. Se eu puder, trabalharei apenas como atriz o resto da minha vida. A medicina exige muito, principalmente energia. E também depende de muitos fatores. É muito frustrante ser médico hoje em dia, no nosso país. Acho uma profissão linda, sou grata aos meus pais pela minha formação, mas o que me faz levantar da cama todos os dias, o que faz meu coração bater, é a arte. E não tem nada que me faça mais feliz.
Falando em saúde, como você cuida da mente e do corpo? Qual sua rotina?
Vou à academia todos os dias da semana. Faço musculação, exercícios aeróbicos e zumba. Às vezes, me aventuro num circuito de crossfit. Também vou ao meu dermatologista para fazer laser e outro aparelhos como o multiwaves, que eu adoro. Também medito todos os dias, leio muito e procuro melhorar a ansiedade que é natural a todos nós.
Em abril de 2017 você foi diagnosticada com câncer de mama. Como foi receber essa notícia?
Foi um choque. Não tenho ninguém na minha família com câncer de mama. Fazia exames de rotina porque tinha displasia mamária e controlava desde os 30 anos. Peguei o resultado dois dias depois que o Aguinaldo (Silva, autor de novelas) me chamou para fazer a novela (Sétimo Guardião). Na hora, minha reação foi ligar para o médico e dizer a ele que precisaria estar curada em seis meses – que era o tempo para começar a gravar a novela. Na sequência, a novela foi postergada e isso me ajudou a fazer o tratamento com mais tempo. A novela foi a primeira coisa em que pensei porque estava muito feliz com o convite e porque era algo que queria muito fazer. Depois caiu a ficha que com essa doença não se pode brincar e que se eu tivesse que abrir mão da novela para me tratar, teria que ter a sabedoria para aceitar isso. E acho que seria tranquilo. Mas felizmente, fui diagnosticada num estágio muito precoce da doença, e isso possibilitou que eu me tratasse e fizesse a novela. Retirei dois quadrantes da mama esquerda e na mesma cirurgia já fizeram uma mamoplastia para igualar a outra mama. Na sequência, fiz radioterapia e hoje faço quimioterapia oral. Ainda tenho três anos e meio pela frente, mas hoje estou curada e estou ótima.
E que lições tirou com a doença?
Quando você se vê numa situação assim, começa a priorizar algumas coisas na sua vida. Consegue ver o que tem ou não importância. Percebe que o tempo a muito rápido e isso reforça a ideia de que não vale a pena ar nenhum segundo sequer perdendo tempo com coisas negativas e sentimentos ruins. Viemos a este mundo para ajudar o próximo e fazer quem está à nossa volta feliz. E acredito que daí vem nossa felicidade. Viemos para facilitar a vida de quem está ao nosso redor, para darmos amor sem esperar nada em troca.
Você fazia o tratamento enquanto gravava O Sétimo Guardião. Como foi se entregar a uma personagem em um momento em que a doença provavelmente estava em foco?
Olha, desde a primeira consulta que tive com meu médico, assim que recebi o diagnóstico, eu sabia o que deveria ser feito para realizar o tratamento. Ele me explicou que primeiro eu faria uma cirurgia para a retirada do tumor, e nessa mesma cirurgia faria uma mamoplastia para igualar as mamas, na sequência eu faria 30 ciclos de radioterapia e depois começaria a quimioterapia. E eu estava muito feliz com o convite do Aguinaldo. Então, a cada etapa que conseguia ar, eu pensava que já podia resolver a próxima. Até que acabei as sessões de radioterapia e meu médico me disse que dali para frente teria que fazer quimioterapia oral por cinco anos. A doença deixou de ser o meu foco quando o plano de saúde, por meio de uma liminar na justiça, liberou minha cirurgia. Eu tinha outro foco, que era esse trabalho. E foi ele que me deu esperança, me deu força para seguir adiante. Eu me entreguei de corpo e alma a esse trabalho.
O que você, Simone médica, pode falar para alertar outras mulheres?
Não vou falar como Simone médica, porque a Simone não é apenas médica. A Simone é antes de mais nada, mulher. E também é atriz. Minha mensagem é para que todos, homens e mulheres, façam consultas médicas de rotina anualmente e não deixem de fazer os exames que o médico pede e realizem no tempo solicitado. Isso faz toda a diferença num caso assim. Quanto mais cedo diagnosticarmos uma doença, mais tranquilos aremos pelo tratamento e maiores as chances de cura. E falo isso para homens e mulheres porque nem só mulheres têm câncer de mama e porque temos que pensar em outras doenças também.
Já que falamos em mulheres e em março comemorou-se o Dia Internacional, qual o maior desafio em ser mulher nos dias atuais?
Ainda é assegurar a igualdade entre mulheres e homens como uma condição nas relações humanas, e fazer com que essa igualdade se torne normalidade. Muita gente distorce o discurso e acha que nós, mulheres, queremos alcançar um status de superioridade em relação aos homens, e o feminismo não fala sobre isso e sim sobre a igualdade e equidade dos gêneros. Precisamos ir além daquilo que o nosso entorno social ainda espera de nós. Já conseguimos bastante, mas ainda temos que lutar por muita coisa ainda.
Sentiu algum desafio na carreira específico por ser mulher?
Sim, senti muitos desafios na minha trajetória por ser mulher. Ainda sinto. Há muito desafios e não apenas nessa carreira. Percebo que as mulheres finalmente estão falando, expondo e questionando alguns padrões e comportamentos. Tem sido um desafio constante, mas estamos vendo mudanças acontecerem e conquistando nosso espaço a cada dia. Em relação ao meu ambiente de trabalho, prefiro citar o exemplo de Natalie Portman na cerimônia do Oscar deste ano. Ou seja, ainda não temos um ambiente balanceado, mas estamos lutando por ele.
Você tem uma trajetória no teatro e também estudando fora do Brasil. Como essas experiências a preparam para a carreira de atriz?
Toda vivência auxilia o ator. Estudar fora, ter contato com outras línguas, com autores, atores e diretores não brasileiros, com uma dramaturgia diferente da nossa contribui para essa vivência e amplia o leque e as possibilidades na criação de um personagem. Já o teatro, para mim, é uma das experiências mais enriquecedoras que existe para um ator. Ali o personagem vive o momento, interage com a reação daquela plateia. Cada apresentação é única. Não existe edição. Às vezes, você lida com algo inusitado e sabe que tem que chegar a um determinado lugar, e então tem que improvisar. Isso é de uma riqueza tamanha que acho que o teatro ainda é o maior e melhor exercício para um ator.
Drama ou comédia? Teatro, tevê ou cinema?
Drama e comédia. Teatro, tevê e cinema. Gosto de tudo. Gosto de estar constantemente me desafiando.
Qual momento mais marcante de sua carreira?
Tive alguns momentos marcantes e um deles foi apresentar A Toca do Coelho, que eu idealizei, produzi e na qual também atuei, no encerramento do Festival de Curitiba no Teatro Guaíra, com três apresentações lotadas. Fomos ovacionados em todas as sessões. É muito emocionante e extremamente gratificante ter um retorno assim do público, depois de tanto trabalho. E não foi apenas no Guaíra que tivemos isso. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, viajamos para 18 cidades e ficamos dois anos em cartaz com uma equipe de quase 30 pessoas. Em mais de 70% das apresentações, tivemos sessões lotadas.
Sua última novela foi O Sétimo Guardião, em que interpretou uma beata, a Liliane. Quais lembranças guarda desse papel?
Liliane foi uma personagem que amei fazer. Ela era muito diferente de mim e de tudo aquilo que eu já havia feito. Aprendi muito. O ritmo de televisão é muito diferente do teatro, são muitas pessoas envolvidas. É um aprendizado diário delicioso. Sem falar dos colegas, dos novos amigos que fazemos durante um trabalho assim. Só tenho boas lembranças desses meses em que gravei a novela.
De toda sua carreira, qual personagem sente saudade?
Sinto saudade de Isa Corbett, de A Toca do Coelho. Era muito diferente de mim, me desafiou em vários aspectos e fui muito feliz durante os dois anos em que pude dar vida a ela.
E qual ainda não fez e gostaria de interpretar?
Ahhh, eu tenho um compêndio com tudo o que ainda quero interpretar. Mas atualmente estou sentindo necessidade de me desconstruir. Aqui no Brasil, as pessoas te estereotipam na maioria dos processos de seleção. Isso é perfeitamente compreensível porque hoje em dia é tudo muito rápido. Corremos contra o tempo. Mas acho que o ator tem uma imensidão de possibilidades que pode e deve ser explorada. Quando as pessoas me olham, dizem que sou uma mulher elegante, com “cara de mulher rica”. Não conseguem ver que sou uma pessoa simples, e que como atriz posso fazer qualquer personagem. Então, acho que no momento minha necessidade é de interpretar algo que seja oposto àquilo que as pessoas veem na Simone e ao que sei fazer. Gosto de desafios. Tenho muita vontade de interpretar uma moça simples, humilde… e também tenho muita vontade de interpretar uma vilã, porque é difícil aceitar que na vida exista essa “vilania” que, às vezes, vemos na ficção. Sem falar que também tenho muita vontade de interpretar uma dançarina, uma nordestina… adoraria também trabalhar mais meu lado cômico. Acho a comédia algo desafiador e, ao contrário do que pensam, difícil de fazer.
Você já declarou que não gosta muito de fazer planos. Mas já tem projetos futuros em mente?
É, não gosto de fazer muitos planos, pois estamos vivendo tempos em que planejar coisas pode ser frustrante. Mas como sou uma capricorniana que traça metas e vai atrás, tenho alguns planos. Tenho paralelamente à Sylvia (peça de teatral, que traduziu, produziu e encenou), que talvez volte aos palcos este ano, duas outras produções teatrais em andamento. Uma delas fala sobre autismo e já faz oito anos que estou tentando erguer. Infelizmente, a maioria dos patrocinadores não tem interesse em bancar um drama que fale sobre isso. Hoje, no Brasil, temos uma a cada 60 crianças sendo diagnosticadas com autismo. Muitas famílias não têm condições e informação para lidar com essa realidade, que é dura, mas que pode ser amenizada. Então, quero muito tentar realizar esse projeto – que é belíssimo – no próximo ano. E também muito fazer cinema. Ou seja, atuar, atuar, atuar… e estudar, e ler, e aprender a dançar os ritmos que não sei dançar…. esses são meus planos!
Por fim, como consegue conciliar vida profissional com vida pessoal? O que faz nas horas livres?
Em primeiríssimo lugar, a família é a base de tudo, e é o que mais importa para mim. Tento estar sempre presente. Gosto de estar na casa dos meus pais, comer a comida da minha mãe, estar com meus irmãos, com meus bichos. E uma das coisas boas de ser atriz é que fazemos amigos e colegas em vários lugares, por onde trabalhamos. Sempre que viajo a trabalho ou a eio, tento ver meus amigos, sair, conversar, saber sobre a vida deles. A vida é isso. Só levamos amor quando vamos embora deste mundo. E acho que não podemos apenas levar… temos que dar amor, ajudar a quem pudermos, enquanto estamos aqui. Então eu tento regar minhas relações com todos que participam da minha vida, com todo amor e compaixão que tenho para dar. Nas horas livres, gosto de estar com as pessoas que amo – minha família e meus amigos, de ir ao teatro, a exposições, ao cinema, a restaurantes que gosto, e se tiver alguns dias de folga, gosto de viajar e conhecer lugares, culturas e pessoas.
E a Granja Viana é um bairro que você frequenta, né?
Acho a Granja Viana um lugar extremamente charmoso e bucólico, que tem crescido muito. Tenho alguns amigos que moram aí e, sempre que eu os visito, volto encantada. Adoro ir a alguns restaurantes e às feiras de artesanato, apesar de hoje a Granja contar com estrutura de shopping e lojas muito boas.
Por Juliana Martins Machado