
Não só do canal vive o Panamá. Outras importantes atrações incluem obras arquitetônicas pré-colombianas e espanholas, e a natureza exuberante, fruto do clima tropical do país. Belos parques, surf spots e ótimas opções de compra atraem turistas de todo o mundo. Ou melhor, atraíam. Com a pandemia, as ruas estão desertas. Ninguém entra. Ninguém sai. Até parte do público que foi ao Festival Gathering, que aconteceu no início de março, está isolado na Playa Chiquita, que fica na costa norte do país, após uma ordem oficial do Ministro da Saúde.

“Estamos em lockdown, sem sair de casa desde março, saídas extremamente necessárias”, conta Rafaela Zanandrea Ribeiro. Ela e o marido Adriano saíram do Brasil em abril de 2011. Moraram por quatro anos no Chile e, depois, por dois em Dubai. Neste meio tempo, nasceram as filhas Lorena (7 anos) e Júlia (6). Em 2017, mudaram-se para o Panamá, onde curtem “as praias maravilhosas do Caribe, que chegamos rapidinho de carro”, diz.
No início de fevereiro, o governo criou um gabinete de crise para elaborar uma estratégia de contenção e, em 2 de março, o Ministério da Saúde criou um grupo consultivo independente que começou a fazer recomendações e diretrizes para uma possível resposta. Panamá decretou quarentena em 24 de março, duas semanas após detectar primeiro caso.

E desde 1º de abril, entrou em vigor uma das medidas mais restritivas aplicadas por um país: separação por gênero que, segundo as autoridades, facilita o controle da quarentena pelas forças de segurança. Funciona assim: as mulheres são autorizadas a ir a supermercados, bancos e farmácias (únicos estabelecimentos aptos a funcionar, além de restaurante delivery) às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto os homens às terças, quintas e sábados. Aos domingos, todos em casa.
Sem especificar opções às pessoas que não se identificam com o sexo de nascimento, a medida foi apontada nas redes sociais como uma das mais radicais adotadas para combater o coronavírus na América Latina.
Além da restrição por gênero, há horários específicos para circular e o número final do documento determina se a pessoa pode estar na rua ou não. “Com o número do meu aporte, por exemplo, só posso sair às 12h30 e voltar até 14h30”, explica.

A quarentena por lá é rigorosamente fiscalizada e as ruas da Cidade do Panamá estão praticamente desertas. “A situação, aparentemente está controlada, principalmente a parte hospitalar. Porém seguem aparecendo casos novos diariamente, uma média de 150 por dia”, comenta. O Panamá possui em torno de 4 milhões de habitantes, sendo o país da América Central mais afetado pela Covid-19: até agora, foram registrados 9.726 casos e 279 óbitos.
Como psicóloga, resolveu usar sua profissão para ajudar as pessoas neste momento crítico e tem oferecido sessões de maneira remota. Assim, à medida do possível, colabora para “manter, ou pelo menos, tentar manter o equilíbrio emocional” dela e dos conhecidos. Criou também, ao lado da família, uma rotina de atividades durante semana e, desta maneira, faz com que os dias am mais rápido. “E nos dá a sensação de que foi produtivo, sem tempo para pensar na real situação que o mundo vive atualmente”, completa.


Não só como profissional da área da saúde emocional, mas sobretudo como alguém que como todos nós está ando por este momento crítico, ela orienta: “aproveite para praticar virtudes que antes não tinha ‘tempo’ para praticar, como por exemplo, a paciência e a caridade com a sua família”.
Para Rafaela, o foco é não perder a esperança e a fé. “Tenho esperança de que a humanidade retome suas vidas, com menos egoísmo e mais generosidade no coração. Toda essa situação, tem que provocar uma transformação na humanidade, com um olhar mais humano”, aposta.
Por Juliana Martins Machado